10/03/10 – 00:00 > FINANÇAS (DCI)

SÃO PAULO – O Brasil pode se tornar um mercado de divisas da América Latina e ser um polo financeiro regional. O lançamento do Projeto Omega, como é chamado o banco de moedas brasileiro, está previsto para o dia 25 deste mês. O banco funcionaria como um distribuidor de aplicações e papéis, atuando no mercado de capitais e na compensação de valores em diversas moedas. De olho neste panorama, empresas como a Confidence Câmbio já conseguiram aprovação do Banco Central para atuarem como bancos de câmbio.

Um dos indicativos de que o projeto deve sair do papel aconteceu ontem, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), onde representantes da Boston Consulting Group (BCG), consultoria americana contratada para realizar os estudos, apresentou para empresários como seria o formato do banco de moedas. Ao DCI, um dos espectadores contou que apresentação coloca o Brasil como centro internacional financeiro, nos moldes do acontece em Miami, por exemplo. Lá funciona a Foreign Exchange (Forex). A Forex atende clientes em mais de 140 países e o volume de comércio médio, segundo a própria empresa, é de quase US$ 200 bilhões por mês.

O presidente do instituto de pesquisa de mercado Fractal, Celso Grisi, diz que a economia brasileira ganharia muito com o Omega, que faria a compensação de títulos e moedas latino-americanas, a princípio. Posteriormente o objetivo é operar com todas moedas do mundo. “Seria extremamente positivo, pois traria uma alavancagem forte no mercado financeiro e poderia trazer negócios no Brasil.”

Contudo, o presidente da Fractal analisa que o sistema financeiro nacional precisa aparar algumas arestas no campo da economia, como a modernização cambial. “Propostas como essas requerem sempre a modernização de nossa política de câmbio, implicando a conversibilidade plena da moeda e a extinção, ou redução, a um nível mínimo, dos controles do câmbio.”

Ele analisa que, para implantar o Omega, será necessário fazer três ações anteriores: ampliação expressiva do superávit fiscal primário, redução da dívida pública e taxas de juros fixadas pelo regime de meta inflacionária e pelo câmbio flutuante. “Estamos perto disso, sem dúvida, mas ainda remanescemos sob a ameaça da volta dos controles estatais. O IOF imposto ao capital estrangeiro recentemente é um bom exemplo disso”, afirma.

O analista diz que um centro de compensações permitirá um investidor do Chile, por exemplo, comprar títulos no Brasil, ou até mesmo uma empresa mexicana buscar recursos no Brasil para financiar expansão internacional. “Uma ala moderna, capitaneada por Henrique Meirelles, presidente do BC, apoia o projeto; contudo alas mais conservadoras como a que representa Guido Mantega, ministro da fazenda, não se opõe medida. Há um fortalecimento da economia.”

Estimativas do mercado mostram que o bancário cresceria com o funcionamento do Omega, entre 160% e 240%; o de ações avançaria entre 25% e 40%; o de derivativos, entre 45% e 75%; e o de gestão de recursos (asset management), entre 50% e 110%. No próximo dia 25, BM&F Bovespa, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) devem apresentar oficialmente o projeto.

De olho no mercado, empresas como a Confidence Câmbio, que é uma das maiores corretoras de câmbio do Brasil e opera com mais de 90 filiais, recebeu licença para abrir o primeiro banco de câmbio. O formato de instituição foi criado pelo Banco Central com o objetivo de aumentar a oferta de produtos e a competitividade entre os serviços de câmbio.

A previsão é de que as operações do banco sejam iniciadas a partir de maio. “A entrada como banco visa a operações como hedge, por exemplo, mas em um futuro próximo, após a regulamentação, como no exterior. O Brasil busca regulamentações para fazer os investimentos entre moedas. Está se moldando a legislação, no Brasil, mas não é imediato”, afirmou Andreas Wiemer, vice-presidente da empresa.

De acordo com ele, como banco de câmbio, a Confidence fica autorizada a importar diretamente moeda estrangeira e a abrir conta própria em instituições, entre outras operações atualmente limitadas a bancos múltiplos, não permitidas às corretoras. “Desta forma, a instituição não dependerá de bancos intermediários para viabilizar suas operações, podendo ampliar sua atuação na área de câmbio.”

Wiemer ressalta que o BC faz um processo contínuo de internacionalização da economia nacional ao controlar mais severamente a lavagem de dinheiro.

“São normas melhores no aspecto fiscal e as vemos com bons olhos, pois minimizam a concorrência desleal.”