Empreendedorismo deve ser meta de todo profissional

Há cerca de 15 anos, uma das qualidades mais valorizadas em um funcionário era o raciocínio lógico e a disciplina. Mas o mercado de trabalho mudou e cada vez mais as empresas estão exigindo de seus candidatos habilidades dinâmicas como criatividade e capacidade de inovação. “As organizações querem que as pessoas façam mais com menos e de forma diferente da concorrência”, diz Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo e inovação do Insper.

O desafio é que os colaboradores normalmente não têm formação voltada para aprender a cultivar novas perspectivas e iniciativas para a novidade. Os líderes sentem dificuldade em educá-los para transformar a postura empreendedora individual em hábito corporativo. “Na verdade, as pessoas nem sabem explicar o que é inovação”, diz Nakagawa.

Existem algumas definições universais, que versam sobre “introduzir algo novo” ou “promover uma renovação” no ambiente, nas relações, nos serviços ou nos produtos oferecidos. Quando pensamos em termos empresariais, normalmente as inovações significam algum impacto financeiro, como redução de custos ou otimização de recursos já aplicados. Além disso, devem representar uma notícia para colaboradores ou clientes e trazer uma proposta de melhoria.

Um negócio pode também criar suas próprias definições de inovação. Incentivar os colaboradores ao trabalho voluntário, criar canais para ouvir sugestões abertamente, aplicar projetos de sustentabilidade, preservação ambiental ou buscar soluções para problemas da comunidade ao redor podem ser oportunidades para cultivar o espírito inovador em equipe. Com práticas que tirem os funcionários de uma rotina rigorosa, fica mais fácil para que todos possam pensar criativamente e sugerir modificações que tragam benefícios para colegas e empregadores.

Quando uma nova ideia envolve a entrega de produtos ou serviços, é preciso ainda ponderar sobre três pilares, segundo Carolina da Costa, vice-presidente do Insper responsável pela Graduação – a escola dispõe do Centro de Empreendedorismoplataforma que oferece cursos e mentorias aos alunos para implementação de novos projetos. “O primeiro é a ‘desejabilidade’, ou seja, analisar se existe demanda pelo mercado. O segundo é a ‘executabilidade’, que quer dizer pensar se existe cadeia de fornecimento, matéria-prima acessível e quais são as limitações técnicas. O terceiro pilar se trata da ‘viabilidade econômica’. É preciso checar se a ideia se sustenta como modelo de negócio e qual preço os consumidores estão dispostos a pagar”, diz Carolina.

Pensar criativamente e desenvolver propostas exige ousadia, dedicação e tempo para sair da zona de conforto. “Muitos funcionários se sentem mal ou ficam irritados com a cultura de inovação, porque acham uma perda de tempo”, diz Nakagawa. Segundo Carolina da Costa, justamente por ser difícil implementar lógicas mais abrangentes, muitas empresas tradicionais buscam estruturas separadas para trabalhar com novidades. É o caso da Oxigênio, aceleradora de startups da Porto Seguro, ou do Cubo, centro de empreendedorismo tecnológico do Itaú. Mas as instituições não podem apenas exigir inovação sem oferecer contrapartidas. Para funcionar bem, a nova cultura deve estar associada a políticas de remuneração variável, ou seja, promoção de bônus ou algum tipo de compensação para empregados que trouxerem boas ideias.

É importante também que a organização apresente resultados continuamente, informando quais sugestões foram aplicadas na prática. E também deve desmistificar o conceito de que inovação envolve apenas insights geniais e revolucionários. “Uma pequena mudança na programação do ar-condicionado, por exemplo, pode trazer uma grande economia de energia e dinheiro”, afirma Nakagawa.