Por ERIN MCCARTHY

Parece que os investidores individuais do Japão finalmente encontraram o substituto do Brasil.

A base de pequenos investidores do Japão, uma fonte importante de investimento em mercados emergentes, é conhecida há muito tempo por suas apostas consideráveis no real brasileiro. Esses investimentos geralmente são realizados por meio dos chamados “toshins”, fundos mútuos denominados em moeda estrangeira que aplicam em ativos de alto rendimento, como ações e títulos de dívida.

Mas, como o governo do Brasil e o Banco Central têm adotado medidas agressivas para desvalorizar o real, os investidores japoneses começaram a tirar seu dinheiro do país. Esses fundos japoneses já encontraram novas moradas em outros mercados emergentes, como a lira turca, o rand sul-africano e a rupia indonésia, que têm recebido mais entradas de capital, disse o analista Peter Attard Montalto, da Nomura.

“Temos visto uma grande rotatividade de investidores japoneses deixando o Brasil”, disse Montalto, acrescentando que os esforços do país para desvalorizar o real “estão levando as pessoas a analisar outras alternativas mais atentamente”.

Dados da Nomura mostram que os investidores japoneses aplicaram em março 31 bilhões de ienes (US$ 383 milhões) em toshins denominados em liras, chegando a um total de 178 bilhões de ienes. Eles aplicaram 13 bilhões em toshins denominados em rand no mesmo mês, com o total desses fundos chegando a 74 bilhões de ienes no mês passado.

Esses investidores venderam 38,5 bilhões de ienes em toshins denominados em real no mesmo período. Mas o número corrente de toshins em real ainda é alto, totalizando 4,716 trilhões em março, segundo a Nomura.

O governo brasileiro introduziu vários impostos sobre operações financeiras para coibir a alta do real, e o Banco Central tem cortado os juros agressivamente e comprado dólares no mercado cambial para desvalorizar a moeda do país nos últimos meses.

As firmas não estão oferecendo produtos de investimento em real para os japoneses com a mesma agressividade de antes, disse Koon Chow, estrategista de mercados emergentes do Barclay’s, em Londres.

Embora o real continue respondendo pelo grosso de ativos aplicados pelos toshins japoneses, a lira turca está se tornando mais popular, disseram analistas da Nomura.

Os altos juros da lira e a forte expansão econômica da Turquia estão atraindo mais investidores japoneses para a moeda, disseram analistas. O banco central da Turquia mantém os juros numa faixa de 5,75% a 11,5%, que o banco geralmente usa em apertos monetários repentinos para fortalecer a lira. Mas o déficit em conta corrente gigantesco da Turquia, por volta de 10% do produto interno bruto, ainda cria riscos para a moeda, já disseram analistas.

A taxa básica de juros do Brasil, a Selic, atualmente está em 9%, depois que o Banco Central a cortou em 0,75 pontos porcentuais em abril, como parte de um ciclo de afrouxamento monetário vigoroso que deve continuar.

A economia da África do Sul também exibe um crescimento relativamente forte, com suas abundantes exportações de commodities servindo como principal atrativo para os investidores.

Embora esses investimentos não tenham muito impacto no mercado cambial à vista, já que boa parte das aplicações tem um hedge na outra ponta, eles realmente fornecem a esses países uma fonte contínua de capital que esses governos ficam felizes em receber.

“Os investidores japoneses continuam sendo uma força importante nos mercados emergentes”, disse Montalto, da Nomura. “Os políticos dos mercados emergentes sabem disso, sejam eles da Turquia ou da África do Sul.”