Consultorias reduzem previsão do PIB

Recuo na produção industrial, menor oferta de crédito e alta dos juros para combater a inflação são os principais motivos apontados.

 

15 de fevereiro de 2011 | 22h 30
Roberta Scrivano, Cleide Silva e Fernando Scheller, de O Estado de S. Paulo

 

SÃO PAULO – Consultorias e economistas já começaram a rever para baixo as suas projeções para a economia este ano. Recuo nos dados da produção industrial, menor oferta de crédito e alta dos juros são os principais motivos apontados para a mudança. Como a inflação está alta, os economistas dizem que a elevação dos juros deve ser maior do que se previa.

 

A maior alteração nas previsões é da LCA Consultoria. Para Bráulio Borges, economista-chefe da LCA, o País deve fechar o ano com alta do Produto Interno Bruto (PIB) entre 3,5% e 4%. Antes, a projeção era de 4,3%. Os motivos do recuo, diz, são principalmente as medidas adotadas pelo governo para conter o crédito.

 

Economista da LCA, Thovan Tucakov diz que a desaceleração será intensificada pelos aumentos que devem ocorrer na taxa básica de juros (Selic) e pela política fiscal menos expansiva.

 

Para a Rosenberg & Associados, o PIB de 2011 deverá crescer 4,7% – antes, a projeção era de 5%. Segundo a economista-chefe Thais Marzola Zara, a desaceleração que ocorre na produção industrial desde 2010 vai afetar o crescimento do País. “Seria necessário uma aceleração forte nos próximos meses para alcançar a projeção inicial, mas, dado o nível do câmbio e a questão da competitividade do País, isso não deve ocorrer.”

 

A Tendências Consultoria, que projetava alta no PIB de 4,4% para 2011, também está revendo sua expectativa. Rafael Bacciotti diz que a decisão da revisão foi tomada desde que saíram os dados da produção industrial de dezembro. “Quando vimos que a produção recuou 0,7% em dezembro em vez de subir os 0,4% projetados pelo mercado, decidimos revisar o resultado do PIB.”

 

A MCM projeta um crescimento de 4,5% em 2011, mas estuda reduzir a estimativa para uma faixa entre 4% e 4,2%. Um dos motivos é a alta da inflação, que pode provocar uma elevação mais forte dos juros. “Tenho receio das medidas macroprudenciais adotadas pelo Banco Central. É difícil medir seu impacto”, diz José Júlio Senna, da MCM.

 

Dos bancos que divulgam projeção para o desempenho da economia (Bradesco, Itaú e Santander), apenas o Bradesco disse que poderá revisar para baixo o número. Itaú e Santander não tinham economistas disponíveis para responder à reportagem.

 

Octávio de Barros, economista do Bradesco, lembra que a atual projeção do banco é 4,3%. “Reconheço que os indicadores estão sugerindo uma desaceleração mais rápida”, diz. “Não podemos descartar uma revisão para baixo, mas esperaremos mais alguns indicadores.”

 

Pedro Galdi, analista-chefe da SLW, também diz que é possível perceber sinais de desaceleração na economia: o aperto do crédito, por exemplo, já se refletiu na queda da produção de veículos. Apesar disso, a SLW ainda não revisou as expectativas para o PIB em 2011, que seguem em 4,5%.