19/08/10 – 00:00 > FINANÇAS (DCI)
Grandes empresas fazem corrida por crédito

Fernando Teixeira
SÃO PAULO – A busca por crédito pelas grandes empresas está em ritmo acelerado. São dois os indicadores que mostram a nova realidade. O primeiro é o balanço dos principais bancos do País: excluindo-se o Itaú Unibanco, todos aumentaram suas provisões para o segmento. O segundo indicador vem da Serasa Experian, que mostra que a fome das grandes empresas por recursos no acumulado de janeiro a julho cresceu 12,1% na comparação com os primeiros sete meses do ano passado.

Um dos bancos que mostram esta realidade é o Banco do Brasil. Quando se faz a comparação entre junho do ano passado e o mesmo mês deste ano, o aumento é de 38, 1%. No sexto mês de 2009, o posicionamento da carteira de médias e grandes empresas era de R$ 63, 858 bilhões; já no mesmo mês deste ano, foi de R$ 88, 193 bilhões em recursos. Ao DCI, o diretor da área comercial do banco, Sandro Marcondes , disse acreditar em demanda aquecida no segundo semestre, uma vez que elas precisarão de empréstimos para fomentar o ciclo produtivo do final do ano. “O empréstimo só se converte em caixa no fim do ano.”

Para ele, o crédito para grandes empresas depende mais da demanda do que da oferta. “Devido ao porte, elas conseguem ter uma grande rede bancária e acessar mercados de capitais, tanto o doméstico como o internacional”, frisou o executivo.

Segundo Marcondes, não é fácil conquistar os grandes clientes. “Geralmente essas empresas fazem cotações em dois ou três bancos. Não é somente o preço da operação que é levado em conta, mas agilidade, garantias e condições gerais para o negócio, como flexibilidade ou não. Tudo conta.”

Do lado do banco, ressalta o executivo, a grande dificuldade é a de classificar o risco da operação, uma vez que não há rating público. “Cada operação tem um risco. As informações não são uniformes e cada banco se posiciona de uma forma. O que é necessário é ter projetos estruturados e bem definidos.”

Marcondes justifica o aumento geral em todos os bancos com a crise externa. “Entre abril e junho, o mercado de eurobonds se arrefeceu. Não por coincidência, o mercado de capitais doméstico cresceu acentuadamente.” Outro fator externo, na visão de Marcondes, tem origem na crise americana. “Para evitar stress futuro por falta de crédito, as grandes tomaram recursos para fazer colchão de liquidez. Quem não tem caixa não sobrevive.”

A mesma realidade se verifica no Bradesco. Nos últimos 12 meses, a carteira cresceu 5%. Os executivos apostam no crescimento no segundo semestre, pois a expectativa é ampliar a carteira entre 22% e 26%.

No segundo trimestre, o banco fechou com saldo de R$ 244,8 bilhões, alta de 4,1% ante o primeiro trimestre de 2010. Deste montante, as grandes empresas respondem por R$ 82,8 bilhões. O volume fica pouco abaixo da maior carteira de empréstimos do grupo, a de pessoas físicas, que abocanharam R$ 89,6 bilhões.

Durante a apresentação dos resultados do segundo trimestre, presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi afirmou que o banco foi o que mais fez repasses do PIS [Programa de Sustentabilidade do Crescimento] do BNDES: “Foram 28 mil operações de crédito”, afirmou o executivo.

Outro banco que apresentou crescimento neste tipo de operação foi o Santander. A reserva de dinheiro para este segmento foi a que mais cresceu em 12 meses. Ao todo 15,7%. No fim de junho, o estoque de crédito subiu 6,7% e somou R$ 42, 240 bilhões. “É uma via de mão dupla: o banco empresta mais porque os clientes buscam mais. Ninguém força o cliente a tomar empréstimos”, ressaltou o presidente do grupo, Fábio Barbosa.

A única exceção ficou com o Itaú Unibanco. Em 12 meses a os volumes caíram em 1,3%, baixando de R$ 93, 174 bilhões para R$ 91, 982 bilhões. De acordo com Rogério Calderón, diretor corporativo de Controladoria do banco, a perda aconteceu porque as grandes empresas tomaram crédito via mercado de capitais. “Ano passado as empresas não acessaram o mercado de capitais, e agora a situação se inverteu.”

Serasa

O gerente de indicadores de mercado da empresa, Luiz Rabi, explicou que a demanda aumentou porque minguaram os recursos externos. “A outra explicação é a participação do BNDES.”

Para ele, as empresas de faturamento acima de R$ 50 milhões, consideradas grandes na pesquisa, devem acelerar a busca por recursos. “Entraremos no ponto crítico da produção. Vamos ver se os bancos terão recursos para emprestar.”

A OSX, empresa controlada por Eike Batista que atua em construção e afretamento de unidades de exploração e produção de petróleo, obteve um financiamento de 420 milhões de dólares com um grupo de bancos para a construção da primeira plataforma da OGX. O prazo do empréstimo será de oito anos e meio, informou o diretor financeiro, Roberto Monteiro.