Por Denise Neumann | Valor

SÃO PAULO – A surpresa do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre está na queda de 0,1% no consumo das famílias. Embora negativo, esse dado dá suporte às recentes decisões de corte de juros tomadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) e abre espaço para mais ações de política monetária.

O dado indica que a desaceleração em curso na economia brasileira já havia, sim, atingido a demada, movimento que não ficava claro em outras pesquisas de consumo, como a própria Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), também feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).O resultado põe por terra, assim, a premissa de que havia uma queda na oferta com resistência da demanda.

O dado negativo do consumo das famílias e também do governo (cujo resultado foi um recuo de 0,7% no terceiro trimestre sobre o segundo, com ajuste)  torna menos grave a desaceleração no ritmo do investimento, que também caiu 0,2%, na mesma comparação. No ano, o investimento continua liderando a expansão do PIB. Além disso, como se sabe que as estatais investiram menos que o previsto e também que a execução do Programa de Aceleração do Cresicmento (PAC) está fraca, baixo do previsto, pode-se  ressupor que o próprio governo ajudou a contrair o investimento no terceiro trimestre. E ele pode reverter esse movimento.

Outra ironia do dado do terceiro trimestre: foram as exportações, provavelmente de commodities agrícolas, que “salvaram” o PIB de uma queda no período. As exportações, com alta de 1,8%, e a agropecuária, com alta de 3,2%, foram os únicos dados positivos nos principais setores do PIB, pela demanda e peloa oferta, respectivamente.

O resultado do PIB do terceiro trimestre, ao compor um quadro de queda mais homogênea na demanda, coloca para o governo um trabalho mais árduo para 2012 se quiser que a economia volte a acelerar seu ritmo de crescimento. Quando a queda na demanda é mais localizada, é mais fácil corrigí-la com medidas pontuais. Uma retração generalizada, por outro lado, exige uma ação mais uniforme, o que pode abrir espaço para cortes mais expressivos na taxa básica de juros.

A homogeneidade vista na demanda foi menos clara na oferta. A indústria de transformação recuou (como era esperado) 1,4% no terceiro trimestre sobre o segundo, puxando a queda de 0,9% na indústria total. Serviços  –  até então o grande motor da economia – também desacelerou forte, com queda de 0,3%. A última vez que esse segmento recuou na comparação contra o trimestre imediatamente anterior foi na forte contração do último trimestre de 2008, logo após a queda do banco Lehman Brothers, que detonou o início da crise financeira mundial. Esse sim é um sinal contundente de que de  A a Z, a economia entrou em compasso de espera e será mais difícil devolver a ela o dinamismo necessário para que ela se aproxime de 4%, pelo menos, em 2012.

(Denise Neumann | Valor)