Expansão pelo consumo
O grande motor da retomada do crescimento interno após a crise global de 2008 foi a expansão do crédito, puxada pelos bancos públicos, que sustentou o aumento do consumo e transformou recessão em crescimento num curto espaço de tempo. O crédito, que representava 38,4% do Produto Interno Buto (PIB) em agosto de 2008, antes da quebra do Lehmann Brothers, saltou para 49,1% do PIB em dezembro do ano passado.
Nesse período, porém, alguns bancos privados afrouxaram seus critérios de avaliação de risco e chegaram a sofrer um “subprimezinho” nas linhas de financiamento para aquisição de veículos. A inadimplência cresceu bastante, principalmente nesses financiamentos, as famílias estão com parcela relevante da renda comprometida com o pagamento de dívidas e parte do sistema bancário se dedica, agora, a fazer uma “limpeza” nos seus balanços.
Crescer pelo estímulo ao consumo mediante maior oferta de crédito, portanto, parece não ser mais uma receita disponível para o país. O governo está tentando, de certa forma, repetir a dose, ao colocar os bancos públicos na dianteira da expansão do crédito a juros mais módicos e pressionar as instituições privadas a fazer o mesmo. Por esse canal pode-se até conseguir alguma coisa, mas pouca porque o espaço das famílias para o endividamento é restrito.
O crescimento deve vir do aumento do investimento
O desafio continua sendo o de elevar a taxa de investimento tanto público quanto privado. Todo o esforço da área econômica do governo Lula para reagir ao “crash” de 2008 foi insuficiente para encorpar a taxa de investimento como proporção do PIB, mesmo com os volumosos repasses de recursos para o BNDES.
As iniciativas para acelerar os investimentos por meio de concessões de serviços públicos esbarraram em discussões ideológicas e só agora começaram a se concretizar.
O aprofundamento da crise internacional encontra a economia brasileira tentando se reanimar do forte desaquecimento ocorrido no segundo semestre do ano passado. Como tem sido noticiado, os indicadores de produção mostram que a recuperação está lenta e será uma façanha se o PIB este ano crescer muito mais do que os 2,7% do ano passado.
A percepção de que o crescimento em 2012 será modesto já se dissemina no governo e ficou clara nas palavras do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que em entrevista recente comentou: “Ter um piso de 2,7% está é muito bom.”
Outra visão que começa a se modificar é a do ânimo dos investidores internacionais com relação ao Brasil. Com elevada reputação por ter colocado as finanças públicas em ordem, ter um sistema financeiro sólido, um imenso mercado interno e instituições democráticas, dentre outros atrativos, o país passa, no entanto, por uma reavaliação. Mais recentemente, fala-se que o Brasil é um lugar caro, com elevada carga tributária, controle de capitais e onde o ativismo do governo embaralha a percepção de para onde o país pretende realmente ir.
Com a Europa novamente à beira do abismo, a economia americana em marcha lenta e os indicadores do nível de atividade na China em rápida deterioração, o ambiente externo gera enormes desconfianças para fomentar decisões de investimentos. E o ambiente interno não produz conforto para os empresários ampliarem a produção.
Ao mesmo tempo, o quadro global continua a ser desinflacionário, o que reforça o caminho do corte da taxa de juros, a Selic, que em algum momento deverá estimular a produção. Mas há a resistência da inflação doméstica. A desvalorização do real e o possível fortalecimento do dólar decorrente da aversão ao risco no mercado mundial pressionaria a inflação interna. Isso, no entanto, poderia ser parcialmente compensado pela queda nos preços internacionais das commodities.
No balanço do que pode acontecer ressalta-se o fato de que está mais difícil para o Copom reduzir a inflação abaixo do patamar de 5% em que ela se encontra. Essa foi a conclusão de analistas de mercado que tiveram reuniões com o diretor do Banco Central, Carlos Hamilton, nos últimos dias. Para esses interlocutores, ficou a impressão de que o BC já admitiria uma inflação ligeiramente superior ao centro da meta de 4,5% para este ano – algo entre 5% e 5,5%. O presidente do BC, Alexandre Tombini, vez por outra, cita que no regime de metas que vigora desde 1999, apenas em três momentos – 2006, 2007 e 2009 – o IPCA ficou abaixo de 5,5%.
O BC nega que tenha jogado a toalha. Não está acomodado com a inflação acima do centro da meta este ano nem confortável com as expectativas do mercado de inflação de 5,5% para 2013. Portanto, os juros não vão cair, mas não a qualquer custo. E isso ficou claro na semana passada, quando a direção do BC corrigiu de pronto a leitura errada do mercado de que ele teria sinalizado cortes mais ousados da taxa Selic, podendo encerrar o ano com os juros na casa dos 7%. O BC recolocou a expressão “parcimônia” em seus textos.
Se não tem muito espaço no crédito e na expansão do consumo para reativar a economia, o governo conta com o afrouxamento “parcimonioso” das restrições monetárias e, numa hipótese extrema, com uma eventual flexibilização da meta fiscal.
Um novo problema que se apresenta é o da arrecadação de impostos, que está bem abaixo das projeções do Ministério da Fazenda, conforme informou o jornalista Ribamar Oliveira, em coluna publicada no Valor na quarta-feira e foi confirmado pelo governo. Uma alternativa para não ter que cortar gastos, penalizando os investimentos, seria reduzir a meta de superávit primário. E uma forma de reduzir a meta seria descontar da despesa pública parte dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lembram fontes oficiais.
Na reunião do fim deste mês o Copom poderá cortar a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,5 ponto percentual, para 8,5% ao ano, o que resultará numa redução de 400 pontos base na taxa de juros em nove meses (desde agosto de 2011). Essa substancial queda no custo do dinheiro vai se refletir na retomada da atividade econômica no segundo semestre, espera o governo.