Euro é abrigo para investidor com medo dos emergentes
MATTHEW WALTER e NICOLE HONG (WSJ)
O euro está surgindo como um surpreendente oásis na mais recente fase de turbulência do mercado.
Ativos que vão desde ações de firmas japonesas até títulos de renda fixa de mercados emergentes e notas do Tesouro americano despencaram neste trimestre, agora que os investidores se preparam para a possível retração da política de relaxamento monetário aplicada pelos principais bancos centrais do mundo. Mas o euro vem conseguindo evitar, de modo geral, a volatilidade que atingiu outras moedas, incluindo o dólar e o iene, subindo uns 4% frente ao dólar nas últimas quatro semanas. Na sexta-feira o euro foi negociado a US$ 1,3345, cotação próxima a uma alta de quatro meses. Ontem, a moeda se manteve praticamente no mesmo nível, fechando em US$ 1,3342.
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É uma reversão drástica para uma moeda que com frequência esteve no centro da turbulência do mercado mundial nos últimos anos. Os investidores fizeram apostas recorde na queda do euro, devido à severa crise econômica da Europa e às dúvidas sobre a viabilidade da moeda única no longo prazo.
As posições pessimistas em relação ao euro caíram 90% nas últimas duas semanas, segundo a Comissão do Comércio de Futuros de Commodities dos Estados Unidos. Apesar de problemas como o escasso crescimento econômico da Europa, o aumento no desemprego e o alto endividamento dos países do sul do continente, muitos investidores dizem que o euro é atualmente uma aposta relativamente segura, graças a seu prestígio como moeda de reserva e à diminuição dos temores de uma crise iminente.
A perspectiva de que o Federal Reserve, o banco central americano, comece logo a terminar sua política de estímulo levou muitos operadores a abandonar às pressas as apostas em mercados emergentes e outros ativos de alto rendimento. Agora que se afastaram dessas posições, alguns investidores estão se abrigando no euro, que consideram mais semelhante a um porto seguro como o dólar ou o iene, do que outras moedas mais arriscadas e de maior rendimento, como o dólar australiano.
“É difícil apostar contra o euro”, diz Sam Katzman, diretor de investimentos da gestora nova-iorquina de patrimônio Constellation Wealth Advisors, que investe cerca de US$ 5 bilhões em diversos fundos para seus clientes. “Até que os EUA parem de imprimir dinheiro, ou eles [Europa] comecem a imprimir, o vento está favorável ao euro.”
O que está fortalecendo o euro é o declínio do “carry trade”, operação em que o investidor toma emprestado uma moeda de baixo rendimento, como o euro, a vende e então usa o montante levantado para comprar ativos de maior rendimento, como as ações de firmas americanas ou títulos mexicanos. O “carry trade”, que nos últimos anos ajudou a gerar lucros sólidos em ativos mais arriscados, conta com um diferencial constante na taxa de juros para ganhar dinheiro. Mas agora que a perspectiva para os juros não é tão certa, os investidores estão abandonando os “carry trades” antes que os bancos centrais mudem de rumo. O euro subiu quase 10% desde o início de maio frente ao dólar australiano, um alvo comum do “carry-trade”.
Certamente, apostar no euro tem suas desvantagens. A valorização da moeda não é um fato positivo para economias europeias em dificuldades, como Espanha, Portugal e Itália, pois um euro mais forte prejudica seus esforços para aumentar a competitividade. Ele também torna as exportações europeias menos atraentes e reduz as receitas de exportadores que repatriam seus lucros no exterior e os convertem em euros.
Além disso, os títulos italianos e espanhóis caíram nas últimas duas semanas, sinal de que os investidores ainda consideram arriscadas certas partes da zona euro. AMSCI Inc., MSCI -0.55% que publica índices de ações e títulos acompanhados por investidores que administram trilhões de dólares, recentemente reclassificou a Grécia como mercado emergente, e não desenvolvido.
“Não faz sentido, do ponto de vista econômico, que o euro esteja mais fraco”, disse Jeffrey Sica, presidente e diretor de investimentos da americana Sica Wealth Management. Sica tem apostado que o euro vai cair durante dois anos, mas diz que manter essa posição tem sido “uma tortura”.
“Todas as regras foram jogadas pela janela”, disse ele.
A força do euro também está em risco se o mercado se estabilizar e os investidores se sentirem mais seguros para voltar a fazer “carry trades”, o que implica em vender euros.
Alguns investidores apontam para sinais de que a recessão prolongada na Europa pode ter chegado ao ponto mais baixo. A produção industrial na zona do euro subiu em abril pelo terceiro mês consecutivo, puxada por ganhos na Alemanha e na França. Na semana passada, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico sinalizou uma volta ao crescimento da zona do euro ainda este ano.
Os dados positivos reduzem as chances de que o Banco Central Europeu terá de afrouxar a política monetária num momento em que o Fed está avisando que em breve começará a pisar no freio. Isso conserva uma vantagem crucial que o euro vem tendo em relação ao dólar e o iene.