Por LUCIANA MAGALHÃES, de São Paulo (WSJ) – Queda do real reflete erros do Brasil
O enfraquecimento do real não é uma anomalia de curto prazo, mas uma mudança estrutural que reflete a exaustão do modelo de crescimento baseado principalmente na expansão do consumo, disse Luis Stuhlberger, cofundador e diretor de investimentos de uma das maiores firmas de administração de ativos do Brasil, a Credit Suisse Hedging-Griffo.
“De 2004 a 2012, cada vez que o real se enfraquecia, isso era visto como uma mudança cíclica e não estrutural, então o que todo mundo dizia é ‘tudo que cai volta a subir'”, disse Stuhlberger à agência Dow Jones. “Mas agora é estrutural. O modelo está quebrado.”
Stuhlberger é responsável pelo maior fundo de hedge do Brasil, o Verde, com um patrimônio líquido de R$ 15 bilhões, e a Credit Suisse Hedging-Griffo tem R$ 42 bilhões em ativos em sua divisão de private banking.
Apesar de gerar incertezas, a desaceleração da China ou a crise de dívida da Europa não são as culpadas pela saída de capital do Brasil, disse Stuhlberger. “Os gregos, italianos, chineses e espanhóis não devem ser culpados pelos problemas. O Brasil é vítima dos seus próprios erros” disse ele, ponderando que os problemas externos “exacerbam” tais erros.
Anos de baixo investimento implicam que o modelo de crescimento impulsionado pelo consumo está perdendo o fôlego, e o governo não tem feito muito para mudar isso, disse ele. Além disso, diz Stuhlberger, o Brasil não fez reformas extremamente necessárias, como fiscais e sociais, inclusive não solucionando a questão do sistema de previdência social.
“A capacidade de consumo se exauriu. Precisamos de mais produtividade. Acho que as soluções do governo não estão atacando os grandes problemas”, disse Stuhlberger, acrescentando que, para corrigir algumas dessas fraquezas, o governo brasileiro deveria cortar mais impostos e reduzir seus próprios gastos.
Os problemas brasileiros estão ficando evidentes agora no mercado cambial, com o real tendo caído para menos de US$ 0,50 esta semana. O governo tem tentado enfraquecer a moeda e proteger a indústria e os exportadores locais, embora o Banco Central nos últimos dias tenha agido para impedir uma queda mais descontrolada.
Na história recente, o câmbio brasileiro só saiu duas vezes de seu padrão, disse Stuhlberger: uma vez entre outubro de 1997 e janeiro de 1999, quando o país adotou uma faixa fixa de câmbio, e depois entre maio de 2002 e maio de 2003, quando os mercados entraram em pânico antes da eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A atual situação implica que o dólar pode cair até para R$ 2,40 por dólar, provavelmente não mais, segundo o executivo, mas o governo certamente tentará impedir isso.
Para Stuhlberger, a intervenção do governo no mercado cambial não significa que ele abandonou o câmbio flutuante. “Não acho que o conceito de câmbio flutuante perdeu sua validade”, disse ele.
Ele também acredita que a desvalorização do real soluciona parte dos problemas do Brasil, pois torna sua indústria mais competitiva no mercado doméstico diante das importações mais baratas.
Mas a crise mundial ajuda a destacar os problemas brasileiros, e isso está chamando a atenção dos investidores internacionais, disse Stuhlberger. E se houver de fato uma corrida dos investidores para deixar o país, ele acredita que o BC pode cogitar uma interrupção em seu ciclo de cortes nos juros para manter o investimento no Brasil.
“Não me surpreenderia se o BC decidisse parar o afrouxamento monetário em 8,5% devido ao equilíbrio de forças. Com a taxa básica de juros a, digamos, 7,5%, num momento em que os investidores estão reavaliando suas opiniões sobre o país, a demanda seria muito diferente de uma situação com os juros a 8,5% ou 9%”, disse ele.