Postado por: Sergio Lamucci Seção: Crise econômica, Economia mundial (Valor)

Em breve artigo publicado no fórum de economia global do FMI, o economista-chefe da instituição, Olivier Blanchard, passa em revista o ano de 2011, extraindo quatro lições a partir do que ocorreu desde janeiro e dizendo que ainda há esperança para a economia mundial. Ele ressalta, porém, que colocar a recuperação global nos trilhos novamente será mais difícil do que há um ano.

Segundo Blanchard, isso vai exigir programas de consolidação fiscal críveis, mas realistas; provisão de liquidez para evitar equilíbrios múltiplos; planos que não sejam apenas anunciados, mas de fato implementados; e uma de colaboração mais efetiva entre todos os envolvidos. “Eu tenho esperança de que isso vá ocorrer. A alternativa é muito pouco atraente.”

Blanchard nota logo de saída “como um ano faz diferença”, lembrando que o mundo começou 2011 no “modo recuperação”, ainda que se soubesse que ela era fraca e desequilibrada. Havia esperança, apesar de tudo, e os problemas pareciam menos complicados: como lidar com a dívida imobiliária excessiva nos EUA, como resolver o ajuste nos países da periferia da zona do euro, como enfrentar os voláteis fluxos de capital para os países emergentes e como melhorar a regulação do setor financeiro. Um ano depois, diz ele, a recuperação nos países desenvolvidos está num impasse, com alguns investidores até mesmo “explorando as implicações de uma potencial ruptura na zona do euro, e a possibilidade real de que as condições podem ser piores do que em 2008”.

A partir daí, ele traça as quatro principais lições do que ocorreu em 2011:

1.    Depois da crise de 2008/2009, a economia global está “grávida” de equilíbrios múltiplos – “desfechos auto-realizáveis de pessimismo ou otimismo, com grandes implicações macroeconômicas”. Segundo ele, não se trata de algo novo. “O que se tornou mais claro neste ano, é que problemas de liquidez, associados a corridas, podem também afetar governos. Como no caso dos bancos, dívidas governamentais são muito mais líquidas que seus ativos – basicamente receitas futuras de impostos. “Se os investidores acreditarem que eles são solventes, eles  podem tomar recursos a taxas livres de risco; se os investidores começarem a ter dúvidas e exigirem juros mais altos, essas taxas podem muito bem levar a um calote. Quanto maior a dívida, menor a distância entre solvência e calote.”

2.    Medidas parciais ou incompletas podem piorar as coisas. “Nós vimos como as percepções frequentemente pioraram depois que encontros de alto nível prometeram uma solução, mas entregaram apenas metade dela”. Segundo ele, o motivo para isso é que “essas reuniões e planos relevam os limites da política, tipicamente por causa de falta de acordo entre os países”.

3.    Os investidores financeiros são esquizofrênicos a respeito de consolidação fiscal e crescimento. “Eles reagem positivamente a notícias de consolidação fiscal, mas reagem negativamente depois, quando essa consolidação leva a um menor crescimento – o que frequentemente ocorre”.

4.    A percepção molda a realidade. “Certo ou errado, arcabouços conceituais mudam com os eventos. E, uma vez que eles mudaram, não há como voltar atrás. Por exemplo, pouca coisa ocorreu com a Itália ao longo do verão. Mas, uma vez que a Itália foi percebida como estando em risco, essa percepção não foi afastada. E percepções importam: uma vez que investidores deixaram o mercado, eles não voltam de uma hora para outra.”

Com esses quatro fatores, diz Blanchard, é possível explicar “por que o ano termina muito pior do que começou”.