Por RACHEL EMMA SILVERMAN
Quando a AOL Inc. tentou determinar no ano passado se estava fazendo o melhor uso de seu arquivo de vídeos, a tarefa exigiu uma contagem para medir quais das milhares de páginas da internet que publica diariamente tinham vídeos.
Daniel Maloney, o executivo da AOL encarregado do projeto, cogitou criar um software para detectar vídeos, mas percebeu que demoraria demais para o prazo final do projeto. Ele pensou em contratar temporários para realizar a tarefa, mas percebeu que isso também demoraria.
Então ele se voltou para outra opção que tem ganhado espaço nas grandes empresas: o “crowdsourcing”, algo que pode ser traduzido como “terceirizar para a multidão”.
Isso implica em dividir o projeto em tarefas minúsculas e entregá-las ao público por meio de anúncios num site. Muitas empresas que usam o crowdsourcing pagam centavos por microtarefa para concluir projetos como rotular e verificar dados, digitalizar formulários preenchidos a mão e inserir informações em bancos de dados. Dezenas de serviços, como o Mechanical Turk, da Amazon.com Inc., e o CrowdFlower surgiram nos últimos anos nos Estados Unidos para ajudar empresas a realizar tarefas de maneira barata usando o crowdsourcing.
As empresas que já realizaram projetos desse modo afirmam que geralmente é mais barato e rápido que usar funcionários temporários ou as firmas tradicionais de terceirização. A mão-de-obra do crowdsourcing custa menos da metade da cobrada pela firma típica de terceirização, diz Panagiotis G. Ipeirotis, professor da Escola de Administração Stern, da Universidade New York, e estudioso do crowdsourcing.
Algumas microtarefas podem demorar poucos segundos e pagar alguns centavos. Tarefas de redação ou transcrição, mais complexas, podem pagar de US$ 10 a US$ 20 cada, enquanto os trabalhos altamente especializados, como escrever códigos de programação, valem ainda mais.
A AOL acabou usando para seu projeto de vídeo o Mechanical Turk, um serviço de crowdsourcing que tem mais de 500.000 usuários registrados de 190 países diferentes. A Amazon afirma que empresas como a Microsoft Corp. e a LinkedIn Corp. já usaram seu serviço, pelo qual a Amazon cobra 10% do custo total da mão-de-obra.
A AOL pediu que os envolvidos no projeto do vídeo determinassem se as páginas dos seus sites tinham vídeo e identificassem a fonte e a localização da página.
O projeto começou a operar em apenas uma semana, diz Maloney, e só demorou alguns meses para ser concluído, bem menos do que demoraria se a empresa tivesse de realizar entrevistas para contratar temporários ou criasse um programa para realizar a tarefa. A AOL não quis informar qual foi exatamente o custo do projeto, mas Maloney diz que custou tanto quanto o salário de dois funcionários temporários trabalhando no mesmo período.
Para as empresas, a dificuldade é determinar a qualidade dos colaboradores desses projetos — o trabalho é feito em pequenos segmentos por um grupo grande. Algumas firmas de crowdsourcing dizem que incluem nas tarefas vários testes para determinar a precisão dos trabalhadores.
A InsideView Inc., uma firma de San Francisco que filtra dados para equipes de venda, contratou a CrowdFlower para um projeto de coleta de dados ano passado. A CrowdFlower dividiu as tarefas em passos simples e, para garantir a qualidade, faz questionários com os colaboradores e determina suas notas de acordo com pontuações geradas por computador.
“Você não tem ideia de quem está fazendo o trabalho”, diz Gordon Anderson, vice-presidente de conteúdo da InsideView. “Pode ser uma dona de casa em Iowa ou alguém num campo de refugiados da Índia.”
Outra preocupação é que terceirizar tarefas para o crowdsourcing pode criar o que o professor Jonathan Zittrain, da Faculdade de Direito da Universidade Harvard, chama de “digitalização do trabalho escravo”, em que trabalhadores menores de idade podem trabalhar turnos excessivos em tarefas repetitivas por muito pouco — ou, se o projeto é estruturado como um jogo, sem qualquer remuneração. Os sites de crowdsourcing geralmente oferecem trabalho para donas de casa ou estudantes que podem receber poucas tarefas para trabalhar em seus intervalos.
Numa recente pesquisa de 1.046 trabalhadores ativos da Mechanical Turk nos EUA, cerca de 25% dos pesquisados disseram que seu trabalho para crowdsourcing representava menos de 10% de sua receita anual, segundo o relatório do estudo feito pela CrowdControl, empresa que administra projetos de crowdsourcing. Mais da metade desses trabalhadores era de mulheres, e a maioria deles tinha de 26 a 35 anos, segundo o relatório.
Projetos terceirizados para a multidão podem ser usados para apoiar trabalhadores que têm poucas opções. A empresa sem fins lucrativos Samasource, de San Francisco, por exemplo, se especializa em dar microtarefas, tais como verificar endereços de empresas, para trabalhadores na África.