A ameaça de crises localizadas na Europa será constante nos próximos anos …

03 de novembro de 2011 | 16h 12
Renata Veríssimo, da Agência Estado

BRASÍLIA –

A ameaça de crises localizadas na Europa será constante nos próximos anos, segundo avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O comunicado “Estados Unidos, Europa e China no contexto da crise financeira internacional”, divulgado nesta quinta-feira, 3, pelo Instituto, alerta que os problemas fiscais de alguns países europeus – Irlanda, Portugal e Grécia e, talvez, Espanha e Itália – são particularmente preocupantes porque podem dar origem a uma nova crise bancária de grandes proporções e, portanto, a uma recessão europeia similar ou pior à verificada em 2009.

Para o assessor técnico da presidência do Ipea, Lucas Ferraz Vasconcelos, a crise bancária é o pior cenário, mas, caso venha ocorrer, pode levar as empresas instaladas no Brasil a voltarem a enviar divisas para as matrizes na Europa.

O Ipea desenha um cenário de instabilidade econômica e política na Zona do Euro nos próximos anos. “Daí que novas crises no futuro próximo parecem perfeitamente plausíveis – e, caso venham a ocorrer, se darão em um contexto de crescente resistência popular aos remédios amargos ora utilizados (pesados ajustes fiscais domésticos e significativas ajudas aos bancos feitas com dinheiro público)”, afirma o comunicado.

“Mesmo que as referidas crises sejam evitadas – possivelmente no último minuto, como parece ter se tornado a praxe europeia recente – o fato é que se avizinha um período onde crises permanecerão cronicamente possíveis por um bom tempo”, continua. O Ipea prevê um crescimento medíocre, abaixo de 2%, para o continente.

Crescimento baixo

Segundo o estudo do Ipea, o cenário mundial é de baixo crescimento nos países centrais e de certa desaceleração nos países em desenvolvimento, embora com manutenção de níveis elevados, liderados pela China. Para Vasconcelos, os países em desenvolvimento continuarão sustentando o crescimento econômico mundial.

Para os Estados Unidos, a avaliação é de que o crescimento econômico não será suficiente para debelar o alto desemprego. Contudo, para o Ipea, é improvável uma nova crise bancária americana. O documento sustenta que, dadas as dificuldades políticas para novas elevações de gastos, o presidente Barack Obama não conseguirá criar ou manter os estímulos fiscais para impulsionar a economia. Por isso, o Ipea prevê uma terceira rodada de “afrouxamento quantitativo” da política monetária (quantitative easing 3, QE3) – pela recompra de títulos do Tesouro.

“Ao adotarem esta estratégia, os Estados Unidos podem tentar desvalorizar sua moeda, buscando uma estratégia de crescimento pela via das exportações, assim como fizeram na década de 1990. Isso significará para os países em desenvolvimento uma maior pressão sobre a taxa de câmbio, notadamente do Brasil, que tem sido um dos principais destinos desses capitais”, alerta o comunicado.

O Brasil também pode ser afetado, segundo o documento, em caso de uma desaceleração forçada da economia chinesa para combater a inflação. “Caso o governo chinês resolva realizar um pouso forçado de sua economia, a economia mundial sofrerá forte impacto negativo e a economia brasileira será influenciada pelo lado das exportações e, provavelmente, pela mudança dos seus termos de troca”, diz o Ipea. No entanto, destaca, a economia dificilmente crescerá abaixo dos 8%. “Não se desenha nenhum pouso forçado ou arrefecimento brusco do nível de atividade chinesa”, afirmou Vasconcelos. “Provavelmente os chineses não terão ajustes drásticos na política governamental e no nível de atividade”.