Ameaça de desindustrialização
Qua, 17 de Novembro de 2010 08:47
A chamada “guerra cambial” fez soar o alerta de risco de desindustrialização no Brasil. O fenômeno é um fantasma que ronda a economia brasileira diante da sobrevalorização do real em relação ao dólar. Lembremos os problemas enfrentados pelas indústrias que exportam seus produtos. A relação de câmbio é desfavorável para os que fazem vendas externas, pois perdem receitas ao recebem menos reais pelos dólares obtidos nos negócios. A opção que teriam seria aumentar os preços em dólares, o que reduz sua competitividade.
As indústrias que se dedicam mais às vendas internas também são afetadas, pois o dólar desvalorizado estimula a importação de produtos mais baratos que os similares nacionais pela relação cambial favorável. Caso a “guerra cambial” se aprofunde, e o real se valorize ainda mais, a situação das indústrias nacionais pode ser comprometida a ponto de inviabilizar negócios, levando à quebra de setores inteiros.
Dentro das regras existentes, o governo tem adotado medidas que são adequadas para reduzir os impactos do excesso de dólares no mercado, mas que têm alcance limitado caso Estados Unidos e Europa sigam com políticas expansivas na emissão de moeda para reduzirem os efeitos da crise de 2008/2009. O Brasil poderia romper temporariamente com a livre flutuação do câmbio, mas esta seria uma medida arriscada, que tende a provocar reações negativas do mercado. Há ainda a possibilidade de redução da taxa básica de juros da economia.
As estratégias que podem produzir os efeitos eficazes devem sair das negociações que vêm sendo conduzidas no nível dos gestores das grandes economias mundiais, como as que acontecem na reunião do G20, na Coréia do Sul.
O governo brasileiro está atento e vem fazendo o possível para evitar que o dólar recue muito mais em relação ao real. Mas, em um cenário de desvalorização ainda mais aprofundada do dólar ante nossa moeda, setores produtivos da economia nacional estariam severamente ameaçados pela crise cambial. A expectativa que fica é a de que o bom senso prevaleça entre os líderes internacionais, já que uma nova crise global provocada pela questão cambial pode prejudicar o já lento restabelecimento da saúde econômica mundial neste período pós-crise de 2008/2009.
(Eduardo Pocetti é CEO da BDO no Brasil, firma-membro integrante da quinta maior rede do mundo em auditoria, tributos e advisory services)