Por MATTHEW COWLEY, CHARLES ROTH e STEPHEN WISNEFSKI, de São Paulo (WSJ)

 

O BNDES, o gigantesco banco de desenvolvimento brasileiro, não está planejando nenhuma nova medida para combater os efeitos da desaceleração econômica global no Brasil, mas está pronto para fazé-lo, se as condições piorarem drasticamente ao redor do mundo.

É provável que os empréstimos anuais para os próximos quatro anos se mantenham na faixa entre R$ 140 bilhões e R$ 150 bilhões, disse João Carlos Ferraz, vice-presidente do BNDES, em entrevista à Dow Jones Newswires. O montante é inferior aos R$ 168,4 bilhões emprestados em 2010, que já representavam um aumento de 23% na comparação com 2009, jà que o BNDES tem a meta de estabilizar seus financiamentos enquanto estimula empréstimos pelo setor privado e o amadurecimento dos mercados domésticos de capitais.

O BNDES empresta no geral mais que o que o Banco Mundial, mas é pouco conhecido fora do Brasil. Ele é subsidiado pelo governo e concede empréstimos a taxas de juros que são muitas vezes bem inferiores às taxas de referência do banco central, que historicamente têm se mantido extraordinariamente elevadas. Do total de R$ 1,9 trilhão em empréstimos em circulação no Brasil, um terço é fornecido pelo governo, e 60% disso vem do BNDES.

Em julho de 2009, o BNDES criou uma linha temporária de crédito para garantir que os investimentos no Brasil não fossem interrompidos pela turbulência nas finanças globais. No âmbito do programa PSI, o BNDES emprestou R$ 87 bilhões no ano passado, mas o montante caiu para R$ 34 bilhões nos primeiros nove meses de 2011, já que a demanda por financiamentos de emergência diminuiu. Em abril, o programa foi prorrogado até dezembro de 2012, embora com taxas de juros mais altas.

O crescimento este ano deverá cair para menos da metade da expansão de 7,5% em 2010. Embora a desaceleração não seja tão potente como a da crise de 2008, se fosse chegar àquele nível, então “há espaço para ação [por meio PSI] “, disse Ferraz. “Neste momento estamos numa situação confortável.”

O governo está interessado em garantir que o aumento dos investimentos permaneça acima do ritmo de crescimento econômico, o que é fundamental para manter a inflação sob controle. Os dados preliminares do último levantamento do BNDES entre empresas sugere que o investimento vai crescer em torno de 7,6% anualmente entre 2012 e 2015, um nível inferior aos 10% registrados no levantamento anterior, que cobria o período 2011-2014. A porcentagem está bem acima da taxa de crescimento econômico anual de 4% a 5% prevista pelo governo para os próximos quatro anos.

O investimento das empresas brasileiras tem sofrido à medida que as preocupações sobre os problemas de dívida na Europa e temores sobre uma desaceleração potencial na China pesam sobre o sentimento, mas a desaceleração não é tão drástica como foi há três anos. “Ao contrário do que fizeram em 2008, quando realmente pisaram nos freios, de repente, este ano [as empresas] estão só desacelerando”, disse Ferraz.

Nesta última fase da crise global, o governo brasileiro deixou claro seu desejo de reduzir as taxas de juros para compensar uma desaceleração acentuada do crescimento, ao invés de aumentar os gastos públicos, como foi o caso em 2008. A diminuição das taxas de juros, no entanto, cria o risco de alimentar a inflação, que agora está em cerca de 7%, bem acima da meta do banco central.

Ferraz disse que o BNDES quer ver uma convergência entre a taxa de referência Selic do banco central, e a taxa de juros de longo prazo (TJLP) com a qual empresta do governo. A TJLP está atualmente em 6% ao ano, e Ferraz disse que não há discussão dentro do governo para reduzir essa taxa. Entretanto, a taxa Selic ainda é de 11,5%, mesmo depois que o banco central baixou um ponto porcentual desde agosto.

Embora o governo queira que as taxas de curto prazo diminuam, ele reconhece que isso exigirá reorganizar a forma como sistema financeiro do Brasil funciona. À medida que a taxa Selic caia, ela vai começar a competir mais diretamente com outras fontes de financiamento barato subsidiado pelo governo, como os do BNDES, e vai abrir mais espaço para o setor privado.

Ferraz observou que a história sugere que depois que a taxa de um banco central cai abaixo de 10%, o setor privado começa a desempenhar um papel de financiamento no longo prazo, uma mudança que o BNDES está empenhado em incentivar, ajudando a criar um mercado secundário para negociação de obrigações de empresas, disse ele.

A carteira do BNDES, por sua vez, está mudando. Mesmo enquanto os empréstimos a grandes empresas caem, o crédito a empresas de pequeno e médio porte está crescendo rapidamente, embora Ferraz tenha dito que não está inteiramente claro o que está por trás desta tendência.

De qualquer maneira, o banco está dando ênfase a empréstimos para infraestrutura, que deverão subir de 15% a 20% ao ano ao longo dos próximos anos.

Entre as necessidades mais prementes que o país enfrenta estão as melhorias de infraestrutura antes da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Até agora, o BNDES reservou R$ 5 bilhões para investir em estádios de todo o país, e outro R$ 1 bilhão para a construção de hotéis. Ferraz disse que o banco também apoiará projetos de transporte urbano no Rio de Janeiro e concessões de aeroportos em todo o país, mas ainda não há detalhes definidos.