25/11/2011 0 Postado por: André Rocha – Seção:Análise de ações – Valor
O endividamento é tratado usualmente como algo negativo. Mas uma parcela de dívida é benéfica para as empresas. Até que nível a companhia deve se endividar? Como se encontram as companhias brasileiras?
O preço alvo da ação é influenciado pelo custo médio ponderado de capital (CMPC) da companhia. Utilizando a metodologia do fluxo de caixa descontado, o fluxo de caixa futuro da empresa é trazido a valor presente por essa taxa de retorno. Quanto maior o CMPC, menor o preço alvo e vice-versa.
Para calcular o CMPC, apuram-se primeiro o custo financeiro da dívida e o custo próprio da companhia (simplificadamente, a taxa que os acionistas esperam receber pela valorização das ações). A seguir, calcula-se o capital total – a soma da dívida com o capital próprio. Esse último é representado pelo patrimônio líquido ou pelo valor de mercado da companhia (preço da ação x total das ações). Com essas informações podemos calcular o CMPC:
(Custo da Dívida x Dívida Bruta / Capital Total) + (Custo próprio x Patrimônio Líquido ou Valor de mercado / Capital Total)
Em regra, o custo financeiro da dívida é inferior ao custo próprio de capital da companhia. Assim, possuir alguma dívida reduz o CMPC e por consequência beneficia o preço alvo da ação. Além disso, as despesas financeiras reduzem a base de cálculo para apuração do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro, gerando um ganho fiscal e, logo, um aumento da geração de caixa.
Com isso, seria melhor elevar o nível de endividamento indefinidamente? Não, pois com o crescimento dessa obrigação, aumenta o risco de inadimplência. Com isso a partir de um determinado ponto, o custo financeiro da dívida se eleva, aumentando o CMPC e reduzindo o preço alvo. Esse ponto não é fixo depende das condições macroeconômicas e diferencia-se de setor para setor.
Outra questão a se destacar é que as despesas financeiras produzem volatilidade sobre o lucro o que pode impactar negativamente o preço da ação.
Por fim, o pagamento dos juros gera uma obrigação independentemente do cenário macroeconômico. Mesmo que a companhia esteja enfrentando um período de vendas mais fracas, o pagamento dos juros é devido.
No Brasil, as companhias são pouco endividadas comparadas a parâmetros internacionais. As sucessivas crises do passado e o elevado patamar de juros praticados no Brasil explicam esse procedimento. Poucas companhias brasileiras operam com estrutura ótima de capital. A maioria mantém uma porção maior de capital próprio.
Contudo o futuro parece ser alvissareiro. A expectativa da queda dos juros domésticos e a estabilidade da economia brasileira devem produzir duplo efeito positivo: (i) redução do custo da dívida e (ii) possibilidade de as companhias aumentarem a participação de capitais de terceiros nas suas estruturas de capital. Esses dois fatores impactarão positivamente o preço alvo das companhias brasileiras no médio prazo. A conferir.