Emergentes agora se veem ameaçados por crise global
A sensação generalizada de presidentes de bancos centrais dos principais emergentes, reunidos ontem na Suíça, foi de que a economia global está entrando num período prolongado de baixo crescimento econômico e seus países também estão ameaçados.
Os BCs dos emergentes querem que os países desenvolvidos se coordenem para tentar estabilizar a economia. Consideram que a teoria de descolamento dos emergentes em relação aos desenvolvidos está perdendo força, e a crise começa a atingir alguns pelos canais financeiro, como nas quedas das bolsas, e do comércio, pela baixa de exportações.
“A mensagem é de que os EUA e a Europa têm que agir juntos mais cedo do que tarde, porque senão o preço da crise vai custar alto demais”, disse ao Valor um presidente de banco central asiático. “Os emergentes estão bem administrados e têm sido poupados pela crise, pelo menos até agora.”
Um alto funcionário de BC foi alem: “Os desenvolvidos não sabem como sair da crise. Isso vai terminar mal para todo mundo”.
Para outro participante, o contágio depende por país. A Argentina, por exemplo, depende do que acontecer no Brasil e na China. A Coreia do Sul depende da China, do Japão e dos EUA.
A reunião dos presidentes de BCs de emergentes foi a primeira de uma série, ontem e hoje no Banco Internacional de Compensações (BIS), para examinar as perspectivas econômicas globais. Uma segunda reunião entre os maiores BCs continuava à noite com a participação de Ben Bernanke, do Federal Reserve (Fed, o BC americano), que raramente vem ao BIS. O Brasil participava com Alexandre Tombini, presidente do BC.
Na reunião dos emergentes, o tom foi de forte preocupação. Nos relatos ouvidos pelo Valor não foi mencionado o termo “recessão” e com expansão medíocre. Alguns BCs veem propagação da crise, expectativas de mais resultados negativos, problemas de excesso de endividamento dos governos, empresas e famílias.
Ficou clara a inquietação com a fraqueza dos instrumentos dos desenvolvidos para sair da crise. Os emergentes acham que falta espaço para medidas fiscais fortes nos desenvolvidos, endividados, como também para politica monetária eficaz no uso de instrumentos não ortodoxos. Consideram que, para estabilizar a economia, aplicar o mesmo tipo de remédio tem pouca chance de dar resultado. Acham que medidas como afrouxamento monetário (QE3 nos EUA) têm efeitos indesejáveis nos emergentes, como excesso de fluxo de capitais e pressões sobre a inflação.
As autoridades monetárias estão reunidas em meio ao alarme sobre o aprofundamento da crise na zona do euro. A deterioração do sentimento econômico é forte. Os indicadores de produção global sinalizam recessão industrial, exemplifica Julian Callow, do Banco Barclays. O comércio internacional desacelerou fortemente, sobretudo no lado das exportações americanas e europeias para a Asia. A demanda de importação pela China caiu.
Para a consultoria Capital Economics, de Londres, as poucas medidas adotadas ou em consideração pelos desenvolvidos dificilmente terão grande impacto nas perspectivas de crescimento econômico. O Banco Central Europeu (BCE) tem sido estrito na exigência por austeridade. Mas a avaliação no mercado é de que, mesmo se reverter sua politica e começar a cortar juros proximamente, o efeito poderá ser pouco para conter o impacto combinado de crise da divida soberana e maior austeridade fiscal.
Alguns banqueiros temem uma nova segunda-feira fortemente turbulenta nos mercados financeiros, diante da ameaça de rebaixamento do rating de bancos franceses, o suposto plano B da Alemanha para um default da Grécia e outras dificuldades.