Por LUCIANA MAGALHÃES (WSJ)
A abundância cambial no Brasil não é produto de guerras cambiais mundiais ou resultado de um tsunami financeiro como afirma o governo, disse Gustavo Franco, antigo presidente do Banco Central do Brasil, que também é sócio e diretor executivo da firma Rio Bravo Investimentos.
“As autoridades no Brasil parecem estar querendo se eximir da culpa pela valorização da moeda”, disse Franco em uma entrevista ao The Wall Street Journal.
O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, cunhou o termo “guerra cambial” para descrever as políticas de dinheiro fácil do mundo desenvolvido, enquanto a presidente Dilma Rousseff referiu-se recentemente a um “tsunami financeiro” para reclamar do efeito do dinheiro barato disponibilizado pelos bancos centrais da Europa e dos Estados Unidos.
Para Franco, que na década de 90 era defensor do regime de taxa de câmbio fixa no Brasil, é uma “perda de tempo” para o governo brasileiro culpar fatores externos e deixar de olhar para os problemas estruturais que permanecerão mesmo depois que o “tsunami” passar, pois a “saúde da economia brasileira” trará mais investimentos ao país.
“As melhorias na economia são melhorias na moeda… É melhor não lutar contra isso, mas acostumar-se com isso”, disse Franco.
Embora admitindo que intervenções do governo proporcionam algum alívio de curto prazo para o real, ele afirmou que estas ações têm impacto limitado, pois as forças do mercado prevalecerão. Na sua opinião, as mudanças estruturais criam um novo desafio para os líderes da indústria brasileira, que tinham “ideias românticas sobre uma indústria completamente nacionalizada”, e que agora precisam aceitar que o conceito de uma indústria autossuficiente, com índices de conteúdo nacional de 95%, é inconsistente com a economia global.
“Você precisa ser capaz de usar as melhores importações do mundo, capaz de exportar sua atividade; ter plantas na China e Índia e comprar máquinas da Alemanha”, disse Franco.
O antigo presidente do Banco Central acredita que o Brasil está passando por uma transformação parecida àquela já vivenciada pelo Japão e pela Coreia, quando esses países fizeram sua transição para se tornar economias desenvolvidas. Para Franco, o que o Brasil precisa fazer — e já está fazendo — é reduzir o custo de capital, baixando a taxa de básica de juros, a Selic, e também buscar níveis mais altos de produtividade.