Raquel Balarin, de São Paulo (Valor)
10/11/2009

O Unibanco adquiriu naquele dia R$ 227,8 milhões de suas ações, cerca de 52% de todo o movimento com o papel em 24 de outubro.

O banqueiro Pedro Moreira Salles recebeu dois telefonemas na noite do dia 23 de outubro de 2008. Ambos com teor semelhante: informações vindas de Brasília indicavam que o Unibanco, do qual ele era presidente e acionista controlador, precisava de ajuda. Não era verdade, mas as ligações coroavam a mais forte onda de boatos sobre a instituição financeira, que dez dias depois anunciaria sua união com o Itaú, dos Setubal e Villela.

O dia seguinte, 24 de outubro, seria o mais difícil da vida do Unibanco. Logo pela manhã, um comitê formado por três executivos graduados – Lucas Melo, Márcio Schettini e Cláudia Politanski -, com o aval de Moreira Salles, decidiu antecipar a divulgação de resultados trimestrais para mostrar ao mercado a posição em derivativos de câmbio do banco. A divulgação também tiraria a instituição do “quiet period”, período de 15 dias que antecede a divulgação de resultados e durante o qual a instituição não pode se manifestar.

Parte do mercado, entretanto, interpretou a antecipação como sinal de algo estranho. E o que se viu foi um intenso ataque especulativo: investidores vendiam ações no mercado futuro, sem tê-las em mãos, apostando na disseminação do boato e, consequentemente, na queda do papel. Perto de 14h do dia 24, quando as ações já acumulavam queda de 22%, Lucas Melo decidiu travar uma batalha contra o mercado e recomprar os papéis. Às pressas, o conselho aprovou o aumento do programa de aquisição, para manutenção em tesouraria. E Melo, com o apoio de um operador da Investshop, fez o contra-ataque.

No total, o Unibanco adquiriu naquele dia R$ 227,8 milhões de suas ações, cerca de 52% de todo o movimento com o papel em 24 de outubro. Ainda assim, fecharam com queda de 8,7% em relação ao dia anterior. A sexta-feira tinha chegado ao fim, mas o Unibanco não.

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