SÃO PAULO – O comportamento da inflação não é um fator de preocupação na análise que a agência de classificação de risco Standard & Poor’s faz sobre o Brasil, mesmo levando em conta as dificuldades de administração da política monetária em um contexto internacional impregnado de incerteza e volatilidade.
Em entrevista ao Valor, Sebastián Briozzo, diretor de ratings soberanos da S&P, ressalva, entretanto, que o país se beneficiaria muito ao ter, “o quanto antes”, a taxa de inflação dentro da meta prevista pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), com alvo central em 4,5% e margem de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. “Seria uma fortaleza macroeconômica adicional”, afirmou.
Briozzo não economiza elogios ao Brasil pela redução de sua vulnerabilidade econômica, o que minimiza o impacto das crises internacionais em comparação às ocorrências do passado. Em primeiro lugar, no âmbito externo, ele aponta que o Brasil agora é credor líquido. Do lado fiscal, chama atenção para a estrutura mais sólida da dívida pública, com uma parcela cada vez maior de títulos prefixados em sua composição.
“A pergunta a fazer agora está relacionada ao crescimento econômico. Se houver uma recessão global, o Brasil vai sentir claramente, mas não pelo canal financeiro, de contratos, e isso é uma boa notícia”, afirmou.
A S&P prevê crescimento da economia de 3,2% neste ano e de 3,5% em 2012, uma forte desaceleração em relação à expansão de 7,5% apurada pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no ano passado. Segundo Briozzo, a indústria não conseguiu se recuperar totalmente dos efeitos da crise de 2009, ao contrário do setor de serviços. Além disso, apreciação cambial e taxas de juros elevadas inibiram o crescimento econômico no ano.
“A maior incerteza global vai continuar afetando as perspectivas de crescimento do Brasil. Mas o governo está até agora atuando corretamente. É um equilíbrio difícil evitar a queda forte do crescimento e ainda assim manter a consistência macroeconômica”, afirmou.
Um dos pilares desse cenário, segundo o diretor da S&P, é a política fiscal. O fato de o governo ter aumentado a meta de superávit primário para este ano, aliado ao corte no Orçamento e à aprovação da prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU) em primeiro turno na Câmara, pesa a favor do país, avalia Briozzo.
“Mas a questão fundamental agora é a continuidade dessas políticas em 2012, particularmente com o aumento previsto do salário mínimo. É uma questão ainda em aberto. O governo mostra que tem princípio de responsabilidade fiscal importante, mas o ano que vem impõe desafios novos, talvez maiores que os deste ano.”
Nesse contexto, é possível imaginar uma elevação do rating brasileiro, hoje em “BBB-“, mas já com perspectiva positiva, no curto prazo? Cauteloso, Briozzo diz que a S&P precisa de mais tempo para avaliar se o governo da presidente Dilma Rousseff – “relativamente novo, apesar de ser uma continuidade do anterior” – vai conseguir cumprir os dois objetivos fundamentais na avaliação da agência: promover o crescimento sem se desligar do objetivo de garantir a solidez macroeconômica.
“O objetivo de fortalecer a estabilidade macroeconômica continua sendo fundamental para nós [na análise de rating]. Por isso, pensamos que as medidas no âmbito fiscal são tão importantes”, afirmou.
No dia 30 de abril de 2008, a S&P elevou a nota atribuída à dívida de longo prazo do Brasil em moeda estrangeira para “BBB-” e foi a primeira agência internacional de classificação de risco a alçar o país à condição de “grau de investimento”. No último dia 23 de maio, a perspectiva foi alterada de estável para positiva.
(Camila Dias | Valor)