O excessivo endividamento de empresas, governos e consumidores provocou uma crise histórica em 2008, que não tem data para acabar. A redução desse endividamento é um processo longo e que vai na contramão da necessidade real das economias em crise — crescimento.
Ao se debruçarem sobre estatísticas de 18 países avançados para avaliar o momento em que o endividamento deixou de ser um fator de impulso à economia para tornar-se nocivo, os tecnicos do BIS (Banco de Compensações Internacionais) viram ao longo do tempo o mundo rico afogado em dívidas. Sua conclusão é que acima de 85% do Produto Interno Bruto, a dívida pública refreia o crescimento e é combustível de crises. Esse limiar fica perto dos 90% do PIB para a dívida das empresas não financeiras e de 85% do PIB para a dívida das famílias.
A explosão das dívidas do setor não financeiro ocorreu sistematicamente em todos os 18 países da OCDE da amostra ao longo de 30 anos. A soma dessas dívidas de governo, famílias e empresas nas três últimas décadas (até 2010) saltou de 167% do PIB em 1980 para 314% hoje — uma média anual de crescimento de 5 pontos percentuais do PIB. Deflacionada, esta expansão alcança 4,5% ao ano. A dívida das famílias avançou a uma velocidade maior, de 6,5% anuais.
Os empresários da Suécia (196% do PIB) são os campeões de endividamento entre as nações avançadas, seguidos pelos espanhóis (193%) e belgas (185%). Já os governos mais endividados são conhecidos: Japão (213% do PIB), Grécia (132%) e Itália (119%). E as nações onde as famílias mais têm dívidas não estão no centro da crise: Dinamarca (152% do PIB) e Holanda (130%).
Os autores terminam o trabalho (Os efeitos reais do endividamento, www.bis.org) com um alerta — o problema do endividamento nas economias desenvolvidas é pior do que se pensava. “O envelhecimento da população vai elevar a dívida pública rapidamente para altos níveis na próxima década”, apontam. “Ao mesmo tempo, ele reduzirá o crescimento futuro, deteriorando a sustentabilidade da dívida. Assim, à medida que as populações envelhecem e os déficits públicos sobem, o crescimento cairá. Como o crescimento cai, as dívidas sobem mais ainda, reforçando o impacto negativo de uma já baixa taxa de expansão”. Resumindo, eles enviam uma mensagem urgente aos governos endividados — ajam rápido.