O modelo econômico superior da China  –  BS2 Consulting

Por ANDY STERN

Andy Grove, o fundador e presidente da Intel, foi provocativo ao escrever, ano passado, na revista “Businessweek” que “Nossa crença econômica fundamental, que nós elevamos de uma convicção baseada em observação a um truísmo inquestionável, é que o livre mercado é o melhor de todos os sistemas econômicos — quanto mais livre, melhor. Nossa geração assistiu à vitória decisiva dos princípios do livre mercado sobre economias planejadas. Então nós nos atemos a essa crença, em grande parte alheios a evidências crescentes de que, embora o livre mercado supere economias planejadas, ainda deve haver espaço para uma modificação que é ainda melhor”.

As últimas semanas comprovaram o ponto de vista de Grove, no momento em que as relações dos EUA com a China, e os impactos daquele país sobre o futuro americano, vieram para o primeiro plano da política americana. Nosso Senado inerte ultrapassou a divisão política normalmente instransponível para aprovar uma legislação que visa a lidar com a manipulação cambial da China. A secretária de Estado, Hillary Clinton, o ex-governador e candidato a candidato Mitt Romney e o presidente Barack Obama revelaram seus pontos de vista — que foram desde avisos para que a China “cesse a discriminação injusta” (Hillary) a reclamações de que os Estados Unidos têm sido “trapaceados” (Romney) e de que a China precisa parar de “brincar”com o sistema internacional (Obama).

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David G. Klein

Enquanto isso acontecia, eu participava de um dialogo entre Estados Unidos e China – uma viagem organizada pela Fundação de Intercâmbio entre China e Estados Unidos e pelo Centro para o Progresso Americano — com importantes funcionários do governo chinês, atuais e antigos. Para mim, a tensão resultante do coro de críticas americanas perdeu significado se comparada à leitura do esboço do planejamento de 12 anos da China. Os objetivos: um índice de crescimento anual de 7%; um investimento de US$ 640 bilhões em energia renovável; a construção de 6 milhões de casas; e a expansão de tecnologias da informação de última geração, veículos com energia limpa; biotecnologia, manufatura e proteção ambiental de alta tecnologia — tudo isso enquanto se promove igualdade social e desenvolvimento rural.

Alguns americanos estão tirando lições disso. No mês passado, o jornal “China Daily” citou Orville Schell, que dirige o Centro de Relações entre Estados Unidos e China na Ásia Society: “Eu acredito que nós nos demos conta de que a habilidade de planejar é exatamente o que está faltando nos Estados Unidos”. O artigo também mencionou que Robert Engle, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2003, disse que enquanto a China está fazendo planejamentos de cinco anos para a nova geração, os americanos estão apenas planejando para as próximas eleições.

O mundo têm se tornado “raso” devido aos milagres tecnológicos de Andy Grove, Steve Jobs e Bill Gates. Isso obrigou todas as instituições a confrontar o que é claramente a terceira revolução econômica na história mundial. A Revolução Agrária foi uma transição de praticamente 3.000 anos, a Revolução Industrial durou 300 anos e esta revolução global liderada pela tecnologia levará apenas 30 míseros anos. Nenhuma geração sequer testemunhou tantas mudanças em uma só vida.

Os debates atuais sobre a moeda chinesa, o desequilíbrio comercial, nossa dívida e o uso excessivo de propriedade intelectual pirateada americana por parte da China são provas de que a Revolução Global – junto com as reformas orientadas para o crescimento do governo liderado por Deng Xiaoping – criou a segunda maior economia do planeta. Está em uma trajetória clara de derrotar os Estados Unidos ate 2025.

Como Andy Grove antecipadamente articulou na edição de 1º de julho de 2010 da “Businessweek”, as economias da China, Cingapura, Alemanha, Brasil e Índia demonstraram “que um planejamento para a criação de empregos precisa ser o objetivo numero um da política econômica pública; e o governo precisa ter um papel estratégico na definição das prioridades e na organização das forças necessárias para se atingir essa meta.”

O modelo fundamentalista de livre mercado, apenas de acionistas — tão bem-sucedido no século XX — está sendo jogado na pilha de lixo da história no século XXI. Numa era em que os países precisam se tornar times, os resultados do Time dos Estados Unidos – uma década sem emprego, 30 anos de uma média rasa de salários, um déficit comercial, uma classe media encolhendo e ganhos fenomenais em riqueza para os top 1% — são patéticos.

Isso deveria motivar líderes a repensar, em vez de replicar um extremismo de livre mercado empiricamente falido. Por mais doloroso e humilhante que possa ser, os Estados Unidos precisam fazer aquilo que um time que um dia foi o melhor de seu esporte faria: estudar os ingredientes do sucesso de seus concorrentes.

Enquanto nós debatemos, o Time da China segue em frente. Nossa delegação testemunhou o desenvolvimento chinês orientado para as pessoas em Chongqing, uma cidade de 32 milhões de habitantes na China Ocidental, que é comandada por um agressivo e popular líder do Partido Comunista — Bo Xilai. Um mar de guindastes está construindo cerca 140.000 metros quadrados de espaço utilizável por dia — incluindo, conforme disseram à nossa delegação — 700.000 unidades residenciais anualmente.

Enquanto isso, o governo chinês pode se gabar de ter consolidado na China Ocidental uma zona econômica de informática e de produção automotiva e aeroespacial, resultando em um crescimento anual de 12,5% e uma elevação de 49% na receita tributária anual, com salários aumentando mais de 10% ao ano.

Para aqueles entre nós que amam este país e acreditam que os Estados Unidos têm tudo o que precisam para continuar sendo o motor econômico número 1 do mundo, é perturbante que não tenhamos nenhum plano – e que, no lugar de um plano, estejamos só demonizando o governo e adorando do livre mercado em um momento histórico que requer uma reavaliação dessas duas crenças.

Os Estados Unidos precisam elaborar um plano para crescimento e inovação, com um governo que seja parceiro do setor privado. Revoluções econômicas requerem instituições para mudar e, quem sabe, fazer história, pois se elas permanecerem no status quo elas vão logo virar história.

O imperativo para mudar é simples. Como Andy Grove disse: “Se quisermos continuar a ser uma economia líder, ou mudamos nós mesmos ou continuamos a ser forçados a mudar”.

Stern é membro do Centro Richman da Universidade Columbia.